Homicídio, suicídio ou "nim"?
Periodicamente os filósofos de serviço vêm a público com discussões, cuja importância, pretende ultrapassar o que realmente é prioritário, como a luta contra um sistema doente, endêmico, corrupto, de exploração, onde a miséria de muitos é o berço da riqueza de alguns. Estas discussões, pseudomodernas, partem geralmente daquela parte da sociedade que nunca na vida irá necessitar e, tão pouco, utilizar o que com elas pretendem, feita através das novas formações politicas, constituídas por meninos "queques" socialmente ignorantes.
Agora, e mais uma vez, vem ao baile, a questão da eutanásia (nome pomposo para algo muito sério, o "suicídio"?! assistido), cuja dualidade de critérios e interpretações, não pode ser desvalorizada: o que é para uns suicídio, para os outros, será homicídio, sempre e sem meios entre estas duas definições. A questão, está em saber distinguir em que ponto se podem unir estas duas definições: quando o suicida tem ou deixa de ter discernimento para decidir sobre a sua existência, e quando o homicida consegue pôr de lado, a sua condição de assistente e passa a ser um mero instrumento (arma) do outro.
O problema principal reside na primeira, onde nenhum psicólogo ou psiquiatra teve, tem ou terá competência, para decidir o que o doente, ou velho, pensa sobre si próprio na hora final (uma decisão tomada hoje a frio, nada tem a ver com o pensamento na hora e, quando já não tem capacidade para dizer que "afinal não quero").
Esta indecisão final, passa e servirá sempre, para justificar crimes hediondos, onde, desde um Estado sem escrúpulos se servirá para se livrar de um peso económico incómodo, passando por famílias desestruturadas, até aqueles que verão aí, uma oportunidade para receber uma herança salvadora. A primeira hipótese, secalhar a mais terrível, tem infelizmente antecedentes na política nazi (ou já foi esquecido?); as outras duas, serão praticadas na sombra dos videntes (bruxos) e da corrupção a nível da medicina privada e publica, mas quase impossível de provar.
Hoje, quase todos nós pensamos igual: "só não quero sofrer. Assim, quando já não tiver conserto, quero morrer"; mas isto vem a pensamento, porque não vimos condições clínicas, familiares ou institucionais, para termos uns últimos dias felizes, sem dores, com carinho, que nos faça esquecer o fim, porque se todas estas condições forem reunidas (como ao longo da vida se não houverem preocupações e desgostos), ninguém pensará em suicídio, quer auto, quer assistido.
Portanto, quando aí vem mais uma onda modernaça, tentando legalizar o crime, tal como com as drogas ou foi com o aborto (que devolvendo a dignidade às mulheres por um lado, passou a ser utilizado como contraceptivo por outro, como se pode compreender pela idade das mulheres que a ele recorrem), convém fazer uma análise de consciência, pois está em jogo, antes de tudo, a vida dos nossos pais e avós, ou de nós próprios em caso de doença terminal; análise e conclusões essas, que terão a ver antes de tudo, com a criação de condições paliativas, quer em hospitais, instituições de apoio ou, principalmente, dentro de casa, começando por dar poder económico, médico e psicológico às famílias; deixando de fomentar o negócio dos lares e outras instituições, privadas, e reforçando os serviços hospitalares.
Fazer aprovar leis que abram caminho à eutanásia, é confirmar a máxima burguesa da liberdade individualista, na qual se baseia esta sociedade que está a apodrecer, exactamente por essa premissa. A liberdade de escolha, egoisticamente levada às suas últimas consequências, é a negação daquilo em que se baseia o modo de vida do Homem, a relação social. A sociedade, é a base das relações da espécie humana, e sem ela, seria impossível a sobrevivência; sociedade, vida em comum, fraterna, de aliança uns com os outros na luta contra e dentro, da natureza. Qualquer laço que se rompa nesta relação, é um passo atrás social. Assim, é nossa obrigação cuidar dos velhos e dos doentes, não matá-los, porque em última análise, a eutanásia é um homicídio em nome de uma possível vontade de suicídio. Só a hipótese de referendo, é já em si um atentado contra a vida, pois pressupõe a morte dos incapazes.
A eutanásia será possível sem quaisquer problemas de ordem social e moral, numa futura sociedade comunizada e nunca nesta podridão desagregada, onde todos, sem excepção, possam usufruir da medicina possível, de apoio psiquiátrico, cuidados paliativos, carinho da família....., enfim, onde a lembrança da morte, possa ser a excepção que confirme a regra; aliás, como todas as questões de ordem moral que hoje se levantam.