PORTUGAL (países desenvolvidos)
Karl Marx deixou-nos em legado o materialismo histórico, ou a ciência do materialismo dialéctico de Engels, aplicada ao desenvolvimento do Homem e das sociedades por si constituídas. Foram estes dois homens, estudiosos, filósofos, revolucionários, que demonstraram que nem a matéria nem a sociedade, se podem afastar das leis da natureza da qual são parte integrante. Eles, principalmente Marx, estudaram as sociedades passadas e actuais (deles) e, com o resultado do estudo, conseguiram prever a forma futura do desenvolvimento social. Deram-lhe nome (comunismo) e preveriam a forma de a atingir (socialismo), mas, nunca especificaram, o que fazer durante a fase de transição, nem mesmo como será o estádio supremo atingido, até porque, o desenvolvimento social não pára, mesmo que aparentemente, a última classe da qual depende a sociedade, tome o poder e abula todo o sistema de classes em que se divide a mesma.
O estudo do capitalismo (sociedade actual na quase totalidade do Planeta), explanado em "O Capital", obra prima sobre a economia capitalista, levou à conclusão, tendo em conta que a economia depende de uma determinada classe que, sob pena do desaparecimento da raça humana, é obrigada a tomar o poder, sempre que as relações de produção, não correspondem ao modo de produção, de que é a classe dos produtores (operários fabris ou do campo não proprietários), que será obrigada subjectiva e objectivamente, a tomar o poder e a exercer no futuro, a distribuição da produção (actualmente, no capitalismo, esta é social porque feita em interdependência por grandes blocos produtivos complementares, e distribuída não de forma social, mas de apropriação privada), de forma mais justa e adequada à produção.
A divisão do mundo em parcelas políticas, económicas e militares, faz parte do desenvolvimento histórico do Homem, fruto da apropriação para fins privados, da produção e dos territórios a ela ligados. Na pratica e teorias materialistas marxistas, são fruto da exploração do homem pelo homem e da respectiva luta de classes, ao longo de milhares de anos, não sendo portanto, algo inventado pela burguesia, tendo esta apenas mantido o sistema, com as mudanças fronteiriças que lhe são convenientes. Esta, a luta de classes, é exactamente isso: luta de classes, não querendo dizer que seja a do proletariado com a burguesia, mas também entre as diversas subclasses existentes no seu seio, ou mesmo, entre diversas classes principais, como foi no caso da monarquia, em que a luta de classes se fazia em três campos: nobreza/burguesia, nobreza proletariado/serviçais e burguesia/proletariado. Nesse tempo, a contradição e luta principais, eram entre a nobreza e a burguesia, agora, é entre a burguesia e o proletariado. Esta's contradições e respectivas lutas, têm sido o motor da História, que não se pode confundir com o desenvolvimento social, que é fruto principal do desenvolvimento das forças produtivas.
Vai caber à Classe Operária, como principal força do sector produtivo, a vanguarda do processo revolucionário que irá transformar as relações de produção, e conduzir a humanidade a um novo estádio, que, sendo o último de uma escala formada na exploração do homem pelo homem, não será com toda a certeza o fim da História.
O climax do capitalismo, já chegou?
Quanto ao exposto atrás, parece ser consensual entre os marxistas-leninistas, o desenvolvimento futuro. No entanto, existe um problema teórico, que pode ditar a vitória ou a derrota da revolução proletária, seja na tomada do poder, seja depois na transformação das relações de produção, de onde sobressai a "destruição" do aparelho de Estado e de toda a superstrutura que está ao serviço da burguesia, para dar lugar a uma nova estrutura ao serviço das novas forças no poder. Esse problema, centra-se na "altura certa" para a mudança qualitativa que deverá sobressair da soma quantitativa do desenvolvimento das forças produtivas e suas relações, e da luta de classes daí saída.
No entanto, há quem pareça não ver, ou não querer ver, e disso fazer uma leitura marxista, que o capitalismo é ainda muito jovem (como detentor do poder, tem somente dois séculos), apesar de nalguns casos, como os monopólios e a subida dos Truts a sistema financeiro, com o domínio quase planetário. Note-se que já no tempo de Marx, o capitalismo parecia estar na sua agonia, e ainda mais no tempo de Lenine, o que até levou este e o Partido Bolchevique, a fazerem a Revolução proletária. Isto quer dizer, e prova, que as coisas não serão assim tão simplistas.
O mundo está dividido administrativamente, como afirmei acima. O Capital, está sempre confinado a um determinado território, quer seja como sede, como factor produtivo ou negocial (tenho consciência de que esta afirmação é polémica nos meios marxistas e não só). A questão do domínio mundial através das multinacionais ou do capital financeiro, não lhe retira o carácter nacional, apesar de ele próprio não olhar a meios, nem ser patriota. A própria burguesia, faz questão dessa divisão, não só para confundir as suas próprias instituições estatais com os impostos, como também para poder melhor controlar as massas de trabalhadores e, com a exploração de uns, garantir o consumo por outros (os consumidores que dão lucros estão nos países desenvolvidos), enquanto os produtores, estão nos países pobres ou em vias de desenvolvimento.
Então, como foi ou é isto possível?
Simples. Os chamados países desenvolvidos, já foram grandes produtores. Tiveram grandes massas operárias, e até estiveram à linha de água para poder fazer a Revolução proletária, mas a burguesia jogou em dois carrinhos: deslocou a produção para onde a mão-de-obra era mais barata, e fez dos operários dos seus países, "pequeno-burgueses (pequeníssimos)" a quem deram alguns rebuçados. O sistema, garantiu lugares em trabalho não produtivo, como o turismo, administrativo, criou Estado Social, reformas chorudas, sistema educativo quase gratuito com licenciaturas e doutoramentos em áreas intelectuais, etc., na Europa criou uma espécie de liberdade interestadual, que fez dos periféricos consumidores dos países centrais, que por sua vez importam das multinacionais, suas, nos países em vias de desenvolvimento; e que recebem as massas ex operárias em férias turísticas, todas contentes por ir ao estrangeiro.
A Classe Operária nos países desenvolvidos, praticamente desapareceu, ou pelo menos, morreu como enorme classe de vanguarda do proletariado em geral. Dos velhos revolucionários, aqueles que a morte ainda não levou, restam as mui respeitosas "múmias" que compõem alguns, poucos, dos partidos revolucionários, que não se conseguem impor perante o poder do dinheiro, que joga a rodos em forma de crédito ao consumo e imobiliário, para as mãos de uma juventude rendida ao imediato, que está intelectualmente impedida de pensar no futuro. A produção desapareceu, e o que resta de acrescentadores de valor e de mais valias, é sobretudo na área dos transportes que no entanto, apenas o acrescentam à produção importada.
Em contrapartida, nos países em vias de desenvolvimento, existem grandes massas operárias, especializadas, mas não intelectualizadas com uma formação pluriprodutiva, ou seja, um operário sabe apertar meia dúzia de parafusos, mas não montar a peça por inteiro; sabe moldar e aplicar um pára-choque numa viatura, mas não sabe ler um desenho técnico e montar toda a chapa da mesma. O trabalho reparte-se muitas vezes, por uma dezena ou mais de horas, não deixando tempo para a associação de classe, lazer, etc. Estes, que aparentemente teriam condições para liderar uma revolução proletária, estão muito longe de ter condições ideológicas e práticas para tal.
Já nos países desenvolvidos, essas condições estão ainda mais longe, depois de terem estado à beira das condições ideais para a tomada do poder. Se nos países em vias de desenvolvimento, é uma questão de organização e de reivindicações ao capital, no ocidente, é sobretudo uma questão ideológica, pois ninguém sente directamente a exploração do sobre-produto que não produz, embora todos saibam que "ganham pouco". É caso para dizer, que houve um retrocesso na formação de classes produtivas, o que trouxe um igual retrocesso ideológico, isto apesar dos grandes avanços científicos e de melhoramento das condições de trabalho.
À pergunta portanto, a resposta lógica é não. O capitalismo, ainda não chegou ao fim e, quando parecendo estar na agonia final, sempre aparece o coelho da cartola: foi o crédito à habitação, que logo amarrou toda a juventude que queria constituir família; foi o crédito ao consumo em larga escala, que deu acesso ao que só as classes médias e altas teriam; foi a propaganda ao facilitismo ideológico, com o desvio do pensamento daquilo que realmente é importante; foi a apologia das liberdades individuais, que se contrapõe à solidariedade; foi a exaltação à propriedade. Ao contrário do que se afirma, o futebol e a religião, deixaram de ser alienações para a juventude, passando a ser um passatempo para os mais velhos, ficando a juventude apenas com a oneração da violência desportiva, com claques subsidiadas para impôr o terror. A grande alienação jovem, está nas redes sociais e em tudo o que se consegue nelas, que, por sua vez, não são redes "sociais" mas redes de alto individualismo, atordoador de consciências, que impedem os jovens e não só, de contactar directamente uns com os outros. Nas redes sociais, sobressaem os jogos violentos, a música aleatória metalizada, o sexo, as chachadas cor de rosa, as mentiras e a deturpação histórica.
O mundo proletário está portanto, dividido, com a agravante, de que aquele mais desenvolvido, já terá passado pela ocasião revolucionária, que não se deu porque aquilo a que habitualmente se chama de revisionismo soviético, não o permitiu, em nome dos valores da paz e que não passou de calculismo ante capitalismo. Poderia fazer—se a Revolução proletária já? Sim, poderia se não existissem fronteiras, nações, religiões. Mas elas existem, e não são apanágio da burguesia: são também e, sobretudo, uma questão cultural das massas, por muito que isso custe aos marxistas do Já.
Temos portanto, que ver as condições existentes em cada país, em cada região, em cada continente. O materialismo histórico, diz—nos que será a classe operária em aliança com os camponeses (estes agora estão indirectamente fora do processo, por motivo do alto desenvolvimento das forças produtivas mecanizadas e químicas, sendo apenas auxiliares no processo global), a liderar todos os proletários, devido à sua alta condição de consciência de classe, de explorados e de que depende todo o mundo.
Será que esta classe operária se pode deseenvolver já em socialismo? Sim pode e deve, mas para se estar em socialismo, é necessário fazer a Revolução, o que sem CO, é historicamente impossível (este é o materialismo histórico esquecido por muitos). Sem ovos, não se podem fazer omeletes, embora depois de as haver, possam existir mais galinhas a pôr ovos.
Quem desenvolveu no seu seio a classe operária e o proletariado em geral, ou seja, quem arranjou lenha para se queimar? O capitalismo. Foi a sede do lucro, que criou o seu próprio coveiro. Então, não resta alternativa, do que fazer uma reanimação da máquina capitalista nos países desenvolvidos, tendo como principal objectivo, a criação de uma classe operária consciente e liderativa, tendo como cenário imediato, a diminuição das importações, o que irá impor em simultâneo, a crise nos países em vias de desenvolvimento, criando assim condições a uma Revolução por lá, o que irá auxiliar em muito, as condições revolucionárias cá. É por isso, que o regresso aos espaços nacionais, se torna tão importante, embora possam por vezes, existir associações de paises mais ou menos com o mesmo nivel económico. O aproveitamento dos novos movimentos jovens, como o BE, o Podemos, o Siriza, a Front de Gouche, etc, onde a par de muito oportunismo, estão em grande maioria gente generosa e convicta das suas possibilidades em mudar o mundo, é uma imposição da sociedade e dos marxistas, dos verdadeiros revolucionários.