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docarlos

                       TEORIA E PRÁTICA NOS TEMPOS DE HOJE

                       No ano em que se comemora o centenário da primeira Revolução Proletária (comecemos por a definir assim, pois se o objectivo primário seria o Socialismo, como transição para o Comunismo, ela só nos finais dos anos 20s do século passado, se iniciou como Socialista, com os resultados que sabemos), está na ordem do dia, a questão de quem faz a revolução, quem a dirige e como.
                       Friedrich Engels, estudou a natureza e desenvolveu cientificamente a teria do Materialismo Dialéctico, ou seja, a história do movimento, da influência do todo no particular e deste naquele, e das contradições por ele geradas e a transposição da matéria de um estado para outro em forma de desenvolvimento evolutivo, aliás, como Darwin o fez em relação às espécies biológicas.
                       Com base neste conceito cientifico, Karl Marx, estudioso da economia e filosofias do seu tempo, aplicou o mesmo à história das sociedades, em particular do capitalismo, então nessa altura naquilo que ele considerou o seu auge. Com diversas obras publicadas, quer relativas aos temas filosóficos com criticas tremendas aos filósofos burgueses, que a pretexto de combaterem as filosofias religiosas, apresentavam um materialismo estagnado, mecânico, tentando por todos os meios, mostrar que com o capitalismo, teria chegado o fim da evolução das sociedades, visto que a liberdade para a política, a economia e social, era transversal a todos os cidadãos, foi no entanto com  o "O Kapital", que ele desmontou toda a temática da exploração do homem pelo homem e que, com base na evolução, o mundo social não pararia por aí, e que outra sociedade se iria sobrepor ao capitalismo: mais fraterna, mais justa, sem classes, a comunista.                                          
                        Rapidamente, vamos passar dois exemplos destas teorias cientificas, ou antes, destes comprovados fenómenos dialécticos, um na natureza e outro na sociedade: 
                       Se tomarmos uma vasilha de água do frigorífico e a colocarmos sobre um fogão, à sua volta a temperatura é alterada em alguns décimos de grau para baixo (influência do particular no todo). Se após esse movimento, ligarmos o lume, é a vez da temperatura no interior da vasilha ir-se alterando em crescendo (influência do todo no particular) até atingir os 100º, temperatura em que a água passa do estado liquido ao gasoso (de mudança quantitativa enquanto cresce, em qualitativa). 
                       Vamos agora analisar estes fenómenos, na sociedade:
                       Durante o regime feudal, foram crescendo no seu interior, duas classes económicas, o artesão e o comerciante citadino, o burguês. A crescente necessidade de consumo, obrigou a duas coisas: a um maior fabrico de objectos e a uma maior produção agrícola. Para isso, diversos artesãos, foram transformando os meios de produção e os comerciantes, a novos meios de transporte, o que obrigou  ao desaparecimento gradual do artesão e pequeno comerciante, e ao aparecimento do capitalista e do comerciante armazenista, dando lugar a uma produção massiva para a qual eram necessários mais braços, aos quais eram pagos determinados valores que chegassem para o seu sustento e reprodução, o que correspondia a determinado numero de objectos produzidos, p. ex., os que eram produzidos em meia jornada de trabalho, ficando a outra meia, por pagar (isto, porque subjectivamente, o consumidor só pagar o valor de trabalho incorporado, variando apenas o preço, na ordem do mercado, ou seja, na relação da oferta e da procura) era o fermentar de uma nova classe económica dominante, a burguesia (fenómeno quantitativo da sociedade).
                        Quando se chegou a um ponto de tal maneira contraditório, entre a liberdade de criação e as relações feudais de rendas, terças, guerras sucessórias, luxos exorbitantes da nobreza, etc., a burguesia tomou em mãos o poder, sendo o grande símbolo dessa passagem, a Revolução francesa de 1789 (mudança qualitativa).
                        Com este palavreado, já muitos críticos marxistas, estarão a dizer «este, pensa que somos ignorantes, e vem para cá com o ABC da cartilha marxista», no entanto, desde alguns anos a esta parte, após os tempos revolucionários de Abril, que uns pseudó eruditos da Filosofia Marxista, parecem ter esquecido, que estas são as bases do materialismo Dialéctico e do Materialismo Histórico, fundo em que se sustenta toda a Filosofia inerente ao materialismo, que os autores do Manifesto deram ao proletariado e a todo o mundo, como arma para derrotar os exploradores daqueles que nada têm a não ser a força de trabalho para venderem aos detentores dos meios de produção.
                         Tudo o que se relaciona com a matéria e a sociedade, onde se inclui a sua vida espiritual, depende da análise correcta que se faça de cada fenómeno, e das soluções que se encontrem para cada um; é o método dialéctico. Os ditos eruditos, de tanto quererem mostrar serviço, retiveram na massa cinzenta, a prática Leninista da revolução sem ter em conta, que para se chegar a essa mudança qualitativa, fundamental, mudança totalmente arrasadora dos velhos conceitos burgueses em favor dos novos, proletários,  de construção de uma nova sociedade sem classes, são necessárias antes, mudanças quantitativas, que trazem contradições e sub contradições no seu interior, até a contradição principal, aquela que opõe a burguesia ao proletariado, para então a revolução possa pôr as relações de produção a iniciar um novo processo, fazendo a distribuição corresponder à forma de produção,  ou seja, pondo fim a uma produção social e a uma apropriação privada.

                          É esse fenómeno quantitativo, que se vai reiniciar na Revolução Socialista,  continuando a luta de classes, mas ao mesmo tempo, indo uni-las até à classe única: uma nova mudança qualitativa.

                          Exposto estas bases teóricas,  fundamentais para a correcta compreensão do materialismo histórico, chega a altura de se perguntar se depois das experiências já efectuadas e dos avanços e recuos, ainda se pode considerar as relações de produção nos países desenvolvidos, prontas para serem alteradas? É evidente que não. É certo que cada vez o fosso é maior entre explorados e exploradores,  mas também é certo, que sempre o capitalismo tem achado solução: depois de bons salários (países do centro da Europa nos anos 60, 70 e 80), este para não perder o mercado consumidor, ainda criou o crédito virtual, com a emissão de moeda que não inflaciona,  atrasando assim aquilo que parecia inevitável,  a Revolução proletária; e continua a progredir: já se fala na reestruturação das dividas, o que libertará muitos milhões de milhões de dólares,  que evitarão por um lado, aumento de salários;  não prejudicará a continuação de grandes lucros e fará aumentar o consumo, e também ou em alternativa,  a criação de um Rendimento Básico Incondicional, o já famoso RBI. Portanto, ainda não estão reunidas todas as condições básicas para uma Revolução proletária, por muito que com ela se sonhe.

                         Entre os explorados e entre os exploradores, existem misturas de classes com diferentes poderes económicos, sociais e culturais, em que algumas proletárias, conseguem maiores rendimentos, estatuto e cultura, do que algumas das burguesas que vivem da exploração proletária. Um engenheiro ao serviço de uma grande empresa de construção, p. ex., consegue rendimentos muitas vezes superiores ao patrão de uma pequena fábrica têxtil. Um professor universitário, que vende a sua força de trabalho intelectual ao Estado e à sociedade, ganha e sabe muito mais, do que o proprietário de uma quintinha no interior, que por vezes, apenas possui a instrução primária. Um Presidente de União de Freguesias, na Capital, ganha mais do que um Presidente de Câmara no interior quase deserto do país, etc., e o mais curioso, é que são todos personagens com grande influência sobre as pessoas do seu meio, o que vem influenciar em muito a cultura e os costumes em cada região, país e nação.

                         Hoje, uma fábrica modernizada com facturação na casa dos milhões, emprega duas dezenas de produtores, mas tem ao seu serviço,  outros tantos trabalhadores não produtivos que portanto, não acrescentam valor ao produto fabricado; são eles: administrativos, limpeza, vendedores (internos e armazenistas e retalhistas externos), técnicos informáticos,  etc., mas que auferem salários, muitas vezes, superiores aos operários,  sobre quem caem as responsabilidades produtivas. Levam dinheiro que não é pago aos operários, que faz parte da tão propalada produtividade. O proletário,  que se divide em três sub classes (operário produtivo,  não produtivo mas acrescentador de valor, e não produtivo) não mais se desloca de bicicleta ou a pé,  com o farnel levado de casa, nem anda remendado. Aliás,  é no proletariado não produtivo mas que acrescenta valor aos produtos, que está a chamada classe média: é aquele que projecta, de quem dependem os recursos humanos, que ensina, dando valor acrescentado intelectual, que forma cada vez mais operários de alto nível,  etc. De que lado está este proletariado? É que ele, é proletariado, pois o próprio Marx, que no início só considerava proletário o que acrescentava valor e operário o que produzia, veio mais tarde a englobar todo o assalariado no conceito, num reconhecimento que mostra o seu alto nível filosófico. O mundo, está em mudança contínua,  como que a justificar a Filosofia materialista, dialéctica. Os grandes contingentes operários,  de proletários em geral e de camponeses, já não existem, mesmo nos países onde as multinacionais actuam e exploram, onde se produz em massa, mas cujos engenheiros, projectistas  e gerentes de recursos humanos, estão nas sedes ou a elas ligados, nos países desenvolvidos.

                          Quem não vir estas realidades, não vê nada. Está cego, ou pela cultura burguesa, ou pela transformação da filosofia marxista em dogma. Aliás,  como hão de notar, na exposição das minhas ideias, não lanço mão dos chavões dos teóricos marxistas: tento expor as suas teorias aos tempos actuais, tal como não aponto soluções, apenas as coloco à discussão. Não uma outra maneira de encarar o marxismo, reformista, de conciliação de classes, mas deste como estudo da evolução da sociedade em geral e da portuguesa em particular. Não conciliar o proletariado à chamada pequena burguesia, numa política de traição, mas conciliar as diversas camadas proletárias, resolvendo as suas contradições, para que todos um dia, possam fazer a página da História dar a volta, reiniciando outras relações de produção.

                           
                       

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