Numa postagem colocada na rede social, facebook, um amigo destas andanças, deu a conhecer um texto sobre a época revolucionäria que se seguiu ao 25 de Abril da autoria de Francisco Martins Rodrigues, onde se retoma a teoria de que a Revolução Socialista, era desejavel e possivel, deitando as culpas do insucesso à pequena burguesia revolucionária, que estaria anichada no PCP, não sendo este o Partido necessário ao exito da Revolução, aliás, acusação essa que se mantem nos dias de hoje. Mas será assim? Correndo o risco de me repetir, vejamos então: Se agora, apesar da produção capitalista global, o mundo continua dividido administrativamente e, o próprio capital com produção multinacional, continua sedeado num só país, tornando impossivel uma revolução também global, até porque não existe uma internacional comunista que a coordene, naquela época, muito mais dividido estava, incluindo a existêcia da teoria marxista proveniente da época de Staline, da coexistência pacifica entre os dois sistemas. Sabendo isto, pergunta-se, se realmente haveria condições para a Revolução, não só para a tomada do poder (forças militares e politicas capazes de a levar ao exito), como principalmente, para aguentar e levar à consolidação um regime socialista?
Todos sabemos, que o PCP, era forte, mas pequeno em gente formada no marxismo. Todos sabemos, que também os comunistas, sofriam de um défice politico/filosófico em resultado da clandestinidade. Todos sabemos, que o Pa rtido foi invadido a seguir ao 25 de Abril, por muitos oportunismos, como se viu anos mais tarde.
Para saber se existem condições históricas para uma revolução socialista, é necessário ter conhecimento do marxismo histórico e do marxismo dialécti co. Há a obrigação por parte dos marxistas, de saber que a história das sociedades é feita na luta de classes, que esta provém da existência das mesmas, que por sua vez surgiram com as relações de produção resultantes da detençåo dos meios produtivos. Assim, será facil chegar à conclusão, de que o materialismo histórico, sem o ser apenas, é no entanto, essencial mente a história da economia, das relações de produção, sendo tudo resto: ideologia, religião, organização do Estado, sistema de ensino, etc. ,uma consequência e um auxilio à economia estabelecida.
Se tivermos sempre em conta o atrás descrito: economia, divisão em países, falta de uma internacional c omunista e ainda, alianças económicas e militares, deslocação da concentração operária dos países desenvolvidos para os em vias de desenvolvimento, dependência económica, etc., pergunta-se ligitimamente, se há, ou houve na época, condições para a revolução? Se foi ou não correcta a posição que salvaguardou a democracia burguesa que substituiu o fascismo. < br /> É certo que havia em Portugal uma quantidade muito maior que agora de operários, mas eram o suficiente para manter um país que ficaria isolado? É que o problema, é esse mesmo: manter o país, com o máximo possivel e assim não depender do inimigo, ou mesmo de outro país socialista, como era o caso de Cuba que após a queda da URSS, ficou atrofiada. A nossa Classe Operária, estava concentrada na CIL, porque a do Norte, era um caso completamente diferente, onde quase todos os operários, tinham um pouco de propriedade agricola que lhes poderia valer em caso de desemprego, que é algo que temos a obrigação de saber: muda a mentalidade.
Então, que fazer: a tentativa de revolução, e o mais que evidente contra golpe fascista? A revolução a ferro e fogo, e deixa-la escapar alguns meses ou mesmo semanas depois, com consequências ainda mais graves, como a guerra civil, perdida à partida? Ou consolidar a democracia burguesa, conquistada com o 25 de Abril? A resposta é obvia, para to dos aqueles que rejeitam o aventureirismo: a consolidação da democracia burguesa, com o máximo de controlo possivel do Estado e este, com o máximo de Controlo constitucional.
Claro que sabemos que a pouco e pouco, se não houver força de combate, a burguesia vai reconquistando o perdido. No entanto, esse combate vai forçosamente perdendo densidade devido às condições económicas criadas pelas circunstâncias, como o desemprego, os baixos salários, etc., mas sem Classe Operária, que domine o Partido nas proporções necessárias, não poderá haver revolução e, é isso que acontece na actualidade em todo o mundo ocidental, onde esta classe cedeu o lugar a um proletariado de serviços, que não produz, que não é explorado naquilo que produz, que recebe salários baixos, à custa das mais-valias criadas onde se produz, que de momento, é nos países em vias de desenvolvimento. Portanto, está nas mãos dos operários e partidos comunistas dos paises em vias de desenvolvimento, a revolução, ou se espera que estes passem a serviços, juntando-se ao nosso clube, e passem a batata quente aos agora mais pobres, para onde obrigatoriamente, um dia, o Capital passará a produção?
Dirão agora os marxistas mais inflamados: isso é revisionismo! Claro que é.
Esperar até que o capitalismo morra, é revisionismo, é negar a luta de classes e o papel do proletariado. Até porque se os países agora em desenvolvimento, entram na esfera dos desenvolvidos, como prestadores de serviços, dependentes do agora terceiro mundo, o capitalismo entrará em colapso violento, com guerras sem sentido, numa tentativa de sobrevivência por falta de capacidade de sustentação dos povos. Portanto, não se pode deixar chegar a esse ponto. A passagem a outro tipo de sociedade, tem que ser agora. Mas que tipo de sociedade, se nos paises mais ricos, jä não há proleteriado produtivo?
E é aqui neste ponto, que está a segredo de uma boa análise marxista. Terá de haver uma sociedade politica, intermediária, entre o liberalismo actual e o socialismo, até que hajam condições para o mesmo. Tem de ser uma sociedade, de caracter popular, onde caibam operários, proletários não produtores, proletários aburguesados com o modo de vida liberal, inteléctuais independentes, pequenos produtores, etc. A Grécia, e agora Portugal, estão a dar um ar de sua graça, e também outros países começam a ter movimentos nesse sentido. Mesmo partidos tradicionais, como o Trabalhista em inglaterra ou o PS em Portugal, por oportunismo ou não, começam a compreender que têm de tomar posições anti capitalistas, liberais e que o perigo fascista, é real.
Se por um lado não podemos ser aventureiristas, como o queria a Extrema Esquerda em 1975, e até agora o defendem, pois isso levará à derrota certa, atirando o país para decadas atrás, também por outro, não podemos cair na conciliação de classes à espera dos bons ventos. Tem de ser algo dirigido pelo povo, mas que contente certa parte da burguesia, exactamente a que oferece mais perigo nas suas incertezas.